HOMEOPATIA - Verdades e Mitos

   Por Zola Xavier da Silveira *




     

 

          Ao ensejo das comemorações do Dia Nacional da Homeopatia em 21 de novembro, o blog Guaporé Cultural tem a satisfação de entrevistar a Drª Janete Celano Valladão, médica homeopata carioca, formada há 46 anos, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, com especialização em Homeopatia pelo Instituto Hahnemanniano do Brasil- IHB. Desde 1980, vem exercendo a profissão em consultório particular no Município do Rio de Janeiro. Em Maricá- RJ, é médica concursada como Homeopata, atuando no Município desde 1995.

          Nesta oportunidade, a Drª Janete traz a sua experiência profissional para nos elucidar sobre aspectos relevantes da Homeopatia e tirar algumas dúvidas, muito comuns, sobre essa forma de tratamento, que a cada dia vem conquistando mais adeptos em nosso meio.


Guaporé Cultural – Drª Janete, fale-nos sobre o que é Homeopatia.

Janete Celano Valladão - O termo Homeopatia vem do grego "homoios-pathos" (sofrimento semelhante). É a doutrina que prega a cura de doenças pela administração de substâncias que, aplicadas num indivíduo são, geram sofrimento semelhante à doença apresentada no paciente. Ela utiliza o princípio da “cura pelo semelhante” para tratar e prevenir doenças. É a conhecida Lei de cura da Homeopatia: "Similia Similibus Curantur" - O Semelhante se cura com o Semelhante.

É uma forma diferente de cuidar da saúde. É oportuno que se diga que a Homeopatia não é apenas um método terapêutico, uma especialidade; é acima de tudo um método Filosófico para a Medicina. O homeopata entende que existe uma energia que mantém o nosso corpo, nossa mente e nossas emoções em bom funcionamento. Quando essa energia está desequilibrada, nós ficamos doentes. Então, se não nos sentimos bem ou se estamos doentes, é porque a energia que mantém o nosso organismo sadio está precisando ser cuidada.


Dr Samuel Hahnemann

GC- Drª, a Srª poderia contar um pouco sobre como surgiu a Homeopatia?

JCV- Bem, ela foi criada pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann, nascido em 10 de abril de 1755. Inclusive, nesse dia se comemora o Dia Mundial da Homeopatia. Hahnemann formou-se em Medicina em 1779. A medicina naquela época era muito agressiva e precária. O Dr. Cullen, médico contemporâneo de Hahnemann, analisando os efeitos da China officinalis (Quina ou Quinina) na febre intermitente, apresentava muitas teorias confusas para explicar a eficácia daquela substância na doença.

Descontente com isso e para tentar clarear essas teorias e contradições, Hahnemann resolveu experimentar em si mesmo os efeitos da Quina, ou seja, testar a droga numa pessoa sadia e não em quem se achasse com o quadro da doença. Para isso, ele tomou durante vários dias fortes doses de Quinina, e grande foi a sua surpresa quando sentiu logo os sintomas de um estado "febril intermitente" idêntico às febres que, precisamente, são curadas pela Quinina. Essa observação levou-o a uma explicação clara: um medicamento pode causar no homem são, sinais e sintomas semelhantes aos da doença e, precisamente, por isso desenvolvia uma cura tão rápida e eficiente.

Estava, assim, praticamente, comprovada a Lei dos Semelhantes, que já havia sido enunciada por Hipócrates no século IV a.C. Estava também aberto o caminho para a formulação da Homeopatia, o que aconteceu após as sucessivas experimentações e a dinamização progressiva das substâncias. Assim, em 1796, Hahnemann cria a Homeopatia, mas somente em 1810, ele publica sua principal obra, o livro Organon da Arte de Curar, que possui toda a base da Homeopatia, experimentada por ele próprio.











GC – Por que se comemora o dia Nacional da Homeopatia em 21 de novembro?

JCV- Em homenagem a Jules Benoit Müre que chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 21 de novembro de 1840 e muito fez pela Homeopatia.

 

GC- Muito interessante, conta um pouco dessa história.

JCV- O Dr Benoit Müre era francês, formado em Medicina pela Escola de Montpellier e tinha um passado ligado à Homeopatia, pois foi curado de um processo pulmonar pelo Conde Dr. Sebastião Des Guidi, introdutor da Homeopatia na França e discípulo de Hahnemann. Então, Müre prometera, como gratidão à cura obtida, ser um “fiel propagador da Homeopatia”. Veio para o Rio de Janeiro, mas seguiu para Santa Catarina, onde foram instalados o “1° Instituto Homeopático” e a 1ª Escola Homeopática do Brasil. Depois, voltando para o Rio de Janeiro, ele e o Dr Vicente José Lisboa fundaram o “Instituto Homeopático do Brasil”; isso em 10 de dezembro de 1843. Benoit Müre voltou à França em 1848 e faleceu no dia 04 de março de 1858, com apenas 49 anos de idade.

 

GC- Esse Instituto é o conhecido Instituto Hahnemanniano do Brasil?

JCV- Pode-se dizer que sim, porque o Instituto Homeopático do Brasil deu origem ao Instituto Hahnemanniano do Brasil-IHB, fundado em 2 de julho de 1859; atualmente é o Instituto Biomédico da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, onde eu me formei em Medicina e onde é ministrado o curso de Pós-Graduação em Homeopatia. Ali, no IHB, eu cursei a especialização em Homeopatia durante 2 anos e, posteriormente, tive a satisfação de atuar como médica homeopata no Ambulatório que funciona até hoje, em suas dependências, prestando assistência médica de forma gratuita àqueles que o procuram. 


       Ambulatório de Homeopatia do Instituto Hahnemanniano do Brasil - Rio de Janeiro 

 Além disso, a UNIRIO disponibiliza para os seus alunos de graduação em Medicina a disciplina optativa de Homeopatia a partir do 3º ano curricular. Inclusive, no Hospital Escola Gafrée-Guinle da UNIRIO, funciona um Ambulatório exclusivamente voltado para a Homeopatia, no Departamento de Estudos Homeopáticos, contando com professores concursados nessa área. Outras Universidades do País também oferecem cursos regulares, como o Curso de Farmácia Homeopática na Universidade Federal Fluminense-RJ, dentre outras.


Hospital Gafrée-Guinle onde funciona o Departamento de Estudos Homeopáticos



GC- Mas existe faculdade de Homeopatia?

JCV- Não. O médico homeopata tem a sua formação igual ao do médico alopata. Ele precisa cursar 6 anos numa Faculdade de Medicina. Depois de formado, tem que fazer 2 anos de pós-graduação na especialidade de Homeopatia.

 

GC- Qualquer pessoa pode receitar os remédios homeopáticos?

JCV- Não. No Brasil, medicamentos homeopáticos somente podem ser prescritos por médicos, veterinários e odontólogos e manipulados ou adquiridos em farmácias ou drogarias sob a responsabilidade do farmacêutico homeopata sendo vedada a prescrição e/ou manipulação de medicamentos homeopáticos por leigos.


GC – A Srª sabe quantos médicos homeopatas temos no Brasil?

JCV – Estima-se que temos mais de 15.000 médicos e mais de 2.000 farmácias de Homeopatia. Acredita-se que existam cerca de 500 milhões de usuários em mais de 70 países, sendo 10 milhões só no Brasil.


 

GC – Quais são as instituições que representam os profissionais da Homeopatia no Brasil?

JCV – Temos várias: a Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), a Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas (ABFH), Associação Médica Veterinária Homeopática Brasileira (AMVHB) e a Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas Homeopatas (ABCDH), respondem pelos interesses de suas classes profissionais. A Associação Médica Homeopática Brasileira está ligada e representa o Brasil na LMHI – Liga Médica Homeopática Internacional. Outra importante referência que eu faço questão de mencionar é o Instituto François Lamasson, em Ribeirão Preto - SP, fundado em 1981, onde eu também tive a oportunidade de cursar uma Especialização. Todas essas instituições, periodicamente, promovem congressos e seminários, onde muitos pesquisadores homeopatas brasileiros têm apresentado seus trabalhos científicos. Isso é muito importante para estarmos sempre atualizados.

 

GC- Há quem diga que o remédio de Homeopatia é “bolinha de açúcar ou aguinha”. Como é isso?

JCV- É até compreensível que o leigo diga isso, porque o modo de preparo dos medicamentos homeopáticos é peculiar e só está oficialmente descrito na Farmacopeia Homeopática Brasileira. Existem normas sanitárias claras para o preparo em farmácias de manipulação e ainda tem a fiscalização   da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A Homeopatia utiliza doses mínimas, infinitesimais e a substância passa por um processo de dinamização que proporciona ao medicamento a capacidade de estimular, no organismo, a liberação da energia vital do indivíduo. Por isso, ao se analisar num laboratório, não se encontrará matéria, visto que a substância inicial se transformou em energia. Esse fenômeno é facilmente explicado pela química e pela física quântica. Mas requer um estudo longo e aprofundado para compreendê-lo.

 

GC- Observei que a Srª não usa a palavra remédio e, sim, medicamento. Há diferença?

JCV- Sim. O homeopata fala medicamento, porque, como está claro, remédio é para remediar alguma coisa. Já o medicamento é a substância que vai atuar no organismo no sentido da cura, estimulando a energia vital.

 

GC- É muito comum se ouvir dizer que Homeopatia é um tratamento com ervas, fale um pouco sobre isso.

JCV- O tratamento com ervas é Fitoterapia. Não há impedimento para qualquer pessoa usar e/ou recomendar. Inclusive médicos receitam fitoterápicos, não importando se são Alopatas ou Homeopatas.

Diferente da Fitoterapia, os medicamentos homeopáticos vêm dos três reinos: animal, vegetal e mineral. Além disso, são preparados de forma diferente, com diluições e dinamizações, como eu já falei antes.

É bom que se diga, também, que maior parte dos medicamentos homeopáticos de origem vegetal podem ser extraídos da flora brasileira, mas infelizmente, algumas matérias-primas ainda são importadas.


GC- O remédio homeopático provoca efeitos colaterais?

JCV- Não. Um medicamento homeopático jamais intoxicará alguém, como num choque alérgico, por exemplo, porque ele age estimulando, no organismo, a liberação da energia vital, que se traduz pela reação do próprio organismo contra a doença.

Posso explicar melhor: Os medicamentos homeopáticos são preparados a partir de uma solução de álcool e água, as tinturas, e diluídos muitas vezes, até o ponto de não produzirem os efeitos colaterais.

Essa super diluição faz com que o medicamento seja tomado em pequenas doses, com uma frequência maior e por mais tempo que os medicamentos alopáticos. Daí a expressão popular “em doses homeopáticas”.



 

GC- É como as vacinas?

JCV- Não. Embora a vacina também estimule a reação do organismo, ela não é produzida usando-se doses infinitesimais e nem sofrem dinamização. Por isso, pode causar efeitos colaterais e reações adversas, bem diferente do medicamento homeopático.

 

GC- Uma outra dúvida comum é se a Homeopatia trata qualquer doença. É verdade?

JCV- Não. A Homeopatia tem limites, tanto quanto toda a Medicina.

Doenças incuráveis, são incuráveis para qualquer método terapêutico. É bom lembrar que a Homeopatia trata o doente, independente da sua doença. Então, quando possível, a Homeopatia cura, mas sempre ameniza o sofrimento.

 

GC- Por que a consulta com homeopata é considerada demorada?

JCV- Rsrs. Ela demora o tempo necessário para uma boa conversa, o que nós chamamos de anamnese. Ouvir o paciente é absolutamente necessário para uma boa avaliação e escolha dos medicamentos; depois, é preciso examinar com cuidado todo o paciente e não apenas o órgão ou segmento que foi o motivo da queixa. O paciente é um indivíduo inteiro e não dividido em partes de um todo.

Esse modelo fortalece a relação médico-paciente, que é um dos elementos fundamentais para o sucesso do tratamento e para a tão almejada humanização na atenção ao paciente.


 


GC- Ouve-se dizer que para se tratar com Homeopatia, é preciso ter fé. É isso mesmo?

JCV- Olha, essa é uma questão muito séria, porque a Homeopatia não é religião; é ciência. Não importa a crença, a Homeopatia sempre funciona. Mas, tanto no tratamento alopático, quanto no homeopático, ter fé não prejudica, pelo contrário...

 


GC- Quando a pessoa se trata com Homeopatia, não pode tomar nenhum remédio de alopatia?

JCV- Vamos por partes. Quando a pessoa se trata com Homeopatia, ela não precisa tomar remédios alopáticos. Mas se, por acaso, ela não possa adquirir o medicamento alopático, ela pode lançar mão, de forma emergencial, dos remédios tradicionais, sim, porque de uma forma ou de outra, a pessoa precisa ser atendida.   Eu penso que o bom senso deve sempre prevalecer.

 

GC- É comum se ouvir dizer que o tratamento com Homeopatia é mais lento que com Alopatia?

JCV- Isso é totalmente falso. O medicamento homeopático não tem efeito brusco, mas não significa que seja lento. Tudo vai depender da reação de cada organismo e do tempo em que a doença se instalou. É fácil compreender. Um organismo que está doente há mais tempo, requer mais tempo para se recuperar. Num caso agudo, como numa amigdalite, por exemplo, a resposta é muito rápida, sem qualquer efeito colateral e garante que não haja recidiva.

 

GC- A Srª entende que existem avanços em relação ao emprego e à divulgação da Homeopatia?

JCV- Sem dúvida. Ela é reconhecida no Brasil como especialidade médica, farmacêutica, veterinária e odontológica, sendo, inclusive, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Com isso, a Homeopatia se consolida pela ampla aplicabilidade na restauração da saúde, pela boa aceitação dos que dela se utilizam e principalmente pelo sucesso do tratamento. Porém, apesar de incontestáveis avanços, dificuldades ainda são enfrentadas. São comuns ataques à Homeopatia, geralmente, por parte de pessoas que desconhecem e ignoram seus princípios, sua aplicação e sua eficiência, demonstrada em pacientes por todo o mundo, há mais de 2 séculos.

GC- E em relação ao SUS?

JCV- Eu sou fã incondicional do SUS. Já há algum tempo, a Homeopatia faz parte das políticas de saúde pública e está presente em mais de 355 estabelecimentos da atenção básica do Sistema Único de Saúde em todo o Brasil, inclusive, a sua prática no SUS recebeu o Prêmio Sérgio Arouca, do Ministério da Saúde, em 2005. Mas, só em 2006 o Ministério da Saúde editou portaria que inclui no SUS a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, onde destaca-se, entre outras especialidades, a Homeopatia. Com este ato os gestores de saúde de estados e municípios são incentivados a oferecer em seus serviços o atendimento em Homeopatia. O Município de Maricá foi o primeiro no Brasil a abrir concurso para homeopatas na sua rede pública de saúde, lá em 2002. Eu tive a satisfação de participar e ser aprovada nesse primeiro concurso e trabalhei como homeopata em três postos de saúde, nos bairros do Espraiado, Retiro, Barra de Maricá, no Posto de Saúde Central e no Ambulatório do Hospital Municipal Conde Modesto Leal, todos em Maricá, e pude constatar que há grande procura por essa especialidade.

 

GC- Drª, aqui terminamos a nossa entrevista, com os nossos agradecimentos pela sua participação e aproveitamos para parabenizar os profissionais que se dedicam a essa especialidade tão importante e que tantos benefícios tem trazido a nossa população.



 JCV- Eu também agradeço a oportunidade e finalizo dizendo que a Homeopatia é uma forma de atenção à saúde que busca o equilíbrio da mente e do corpo, valorizando o Ser Humano como um todo. Por isso, eu parabenizo todos os colegas que abraçaram a especialidade, bem como todas as pessoas que utilizam e ajudam a divulgar a Homeopatia. E... Viva a Homeopatia!!

 

 









       Contato: 

       janetecvalladao@gmail.com


*     Jornalista



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