Ocupação da sede dos estudantes pelo exército desde o golpe de 64

 Por Zola Xavier da Silveira *

 

Jornalista rondoniense denuncia a ocupação da sede da União Rondoniense dos Estudantes Secundaristas  - foto Janete Valladão - 2025 

            Em 11 de janeiro de 2025, na praça Lamartine Babo,  Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro,   em frente ao famigerado quartel da Polícia do Exército, onde funcionou o DOI-CODI, foi realizado o ato público  em memória de Rubens Paiva e de inúmeros opositores da ditadura militar que foram assassinados sob torturas naquelas dependências.

          O ato, convocado pelas entidades Associação Brasileira de Imprensa – ABI, Tortura Nunca Mais – RJ e Rio pela Paz,  contou com a presença de dezenas de sobreviventes daqueles horrores, de diversas entidades civis,  de partidos políticos e de familiares de desaparecidos durante a ditadura militar.

foto Janete Valladão - 2025

          Presente no evento, este jornalista, nascido em Rondônia, denunciou a ocupação, pelo exército, do Palacete Rio Madeira,  sede da União Rondoniense dos Estudantes Secundaristas- URES durante o golpe civil militar de 1º de abril de 1964.

          Desde então, como uma sombra ameaçadora, os militares permanecem ocupando o imóvel.  

Um trágico pesadelo!


Em frente ao Palacete Rio Madeira Carmênio Barroso ex-presidente da URES sendo entrevistado por Antônio Serpa do Amaral - PVH  2009


As raízes do Fascismo em Rondônia

          Desde a sua criação em setembro de 1943, quando ainda se chamava Território Federal do Guaporé, o fascismo se fez presente tanto na Estrada de Ferro Madeira Mamoré, como na administração pública, além de número expressivo de fascistas entre os seringalistas, grandes produtores de borracha. Durante a Segunda Grande Guerra, Porto Velho, capital do Território, foi considerada a Blumenau da Amazônia, devido à forte presença de membros da Aliança Integralista Brasileira na cidade, tendo sido motivo de denúncia levada à imprensa pelo Comite Anti-Eixo organizado pelos professores da faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas.  Desde então, as disputas eleitorais em Rondônia sempre foram marcadamente ideológicas. 



A Conquista do Palacete Rio Madeira

          O movimento estudantil teve início nos anos cinquenta no Território do Guaporé, com a fundação da UESG – União Estudantil Secundarista do Guaporé,  que tinha como principal bandeira a conquista de sua sede, o que de fato aconteceu,  graças à vitória da Frente Popular em outubro de 1962. 

      Para o desfecho positivo daquele pleito eleitoral foi decisiva a participação dos estudantes, desta feita sob a sigla da URES,  tendo como seus principais dirigentes João Leal  Lobo, Jonas Coutinho Evangelista, Leonardo Fernandes, este de origem quilombola do Vale do Guaporé, Carmênio Barroso, José Ferreira da Silva e Luiz Tourinho, jovens de diversas tendências políticas.

         

Jornal Alto Madeira 09 de julho de 1963

 

          O prédio denominado Palacete Rio Madeira foi doado aos estudantes atravéz do decreto do governo do Territorial Federal de Rondônia nº 386 de 08/07/1963. A solenidade contou com a presença do deputado federal Renato Medeiros que  fez a entrega das chaves do imóvel para o então presidente da entidade João Lobo. importante salientar que nas dependências do Palacete Rio Madeira também funcionou uma representação do Centro Popular de Cultura- CPC, organismo ligado à União Nacional dos Estudantes – UNE. Proporcionando uma intensa atividade político cultural, com peças de teatro, campanha de alfabetização popular e publicações em defesa da cultural, soberania nacional e das Reformas de Base do governo João Goulart.  


Jornal Alto Madeira 09 de julho de 1963


         Com o golpe civil e militar de 1º de abril de 1964, o  coronel Cunha Menezes foi nomeado interventor no Território pelo general Castelo Brancoe, ao assumir suas funções,  implantou um verdadeiro clima de terror para grande parte da população. Durante vários dias, soldados do exército realizavam rondas noturnas e, em uma delas, prendeu o estudante do Colégio Dom Bosco, José Teixeira de Melo, 15 anos, quando saía às 22 horas, da alfaiataria, seu local de trabalho, levando uma tesoura no bolso. “Os soldados alegaram que a tesoura encontrada era uma arma e me levaram para o quartel”, declarou Teixeira em entrevista a este escriba em dezembro 2024.


Adilson Siqueira, professor da Universidade Federal de Rondônia sendo  entrevistado por Antonio Serpa do Amaral, ao lado de Zola Xavier e Carmênio Barroso, ao fundo o Palacete Rio Madeira - PVH 2009

          Além da cassação do mandato do deputado federal Renato Medeiros e da destituição de Carmênio Barroso do cargo de vice- prefeito em Porto Velho, os estudantes foram desalojados de sua sede, e, desde então, os militares ocupam o Palacete Rio Madeira, imóvel situado à Rua D. Pedro II esquina com a Rua Euclides da Cunha, localizado no centro histórico da capital de Rondônia.

João Lobo o primeiro da esquerda para direita - foto gentilmente cedida pela família.

          Palavras de João Lobo, ex-presidente da URES,  em entrevista concedida em janeiro 2008 quando se referiu a ocupação do Palacete Rio Madeira: “A primeira sede que nós tivemos foi ali onde hoje é o clube dos oficiais do exército, ali, em frente à casa do Dr. Ary Pinheiro. O governo deu por decreto, depois a 'revolução' chegou e tomou por decreto”.     

Que seja restabelecida a verdade histórica:  O Palacete Rio Madeira pertence aos estudantes de Rondônia!


Zola Xavier com o jornalista Marcos Gomes, diretor da ABI              foto Janete Valladão  2025



Wadih Damous Secretário Nacional do Consumidor - Ministério da Justiça - foto Janete Valladão  2025


À esquerda o Jornalista Vítor Iório, diretor de educação da ABI              foto Janete Valladão  2025



Jornalista Milton Temer ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro         foto  Janete Valladão  2025



Zola Xavier com o ex-bancário, historiador e professor Cyro Garcia      foto Janete Valladão  2025

Com a aposentada Lídia Vestes ex-aluna do IFCS  da UFRJ               foto  Janete Valladão  2025


         Com o advogado Ramires Beltrão do Valle da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-RJ              foto  Janete Valladão  2025


Com jovens camaradas do PC do B de Jacarepaguá - RJ                          foto  Janete Valladão  2025




* Jornalista

Idealizador e produtor do documentário " Caçambada Cutuba - A história que Rondônia não escreveu", 2019.

Autor do livro " Uma Frente Popular no Oeste do Brasil", Editora Aquarius, 2023.




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