CENTENÁRIO DE UM COMBATENTE
Breve relato biográfico
Por Zola Xavier da Silveira *
Dionízio Xavier da Silveira,
nasceu na cidade de Rio Branco-Acre, em 07 de outubro de 1925. Durante a
Segunda Guerra Mundial, serviu como Cabo da Guarda Territorial do Acre, ocasião
em que entrou para uma célula do Partido Comunista.
Na segunda metade dos anos quarenta, logo após a cassação do registro do PCB em maio de 47, teve que sair de sua cidade natal por conta da caça às bruxas.

Guarda Territorial do Acre - 1943
Em viagem com destino a São Paulo, para assumir um emprego, na escala em Porto Velho, a aeronave fez um pouso forçado devido a uma pane. “Verdadeiro horror!” Disse-me ele em certa ocasião. Com isso, não seguiu, permaneceu na capital do antigo Território Federal do Guaporé.
Dió, com seus 22 anos passou a
frequentar o antigo Mercado Municipal, parando nas rodas de conversas que se
formavam nas bodegas do Nilo Pontes e do velho amigo Antônio Serpa do Amaral.
Trabalhou como guarda-livros de
seringais, mascate, vendendo produtos manufaturados pelos rios Beni, Madre Dios
e Guaporé e negociando borracha, castanhas e óleo de copaíba. Em suas inúmeras
viagens pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, fez amizades com os condutores a
ponto de, a certa altura, não mais pagar passagens, pois como relatou,
bastava-lhe uma garrafa de cachaça Cocal e um pedaço de charque boliviano para
ele e o maquinista sorverem durante a viagem. Foi nessa época que ganhou seu
apelido carinhoso de Dió.
Segundo registra Vitor Hugo no seu
livro Desbravadores volume III, seria ele “o primeiro comunista ativista
radicado em Porto Velho, membro de uma célula, viera do Rio Branco-Acre:
Dionízio Xavier da Silveira transformou-se em articulador das ideias. Seu
mentor, fora o professor de desenho e matemática em Rio Branco-AC
Gabriel d’Almeida Café, secretário do PC/Acre”.
Em 1950 fixou-se na capital, Porto Velho, participando intensamente das articulações políticas que levaram à formação da Frente Popular conhecida como Peles Curtas, trincheira de luta contra a tirania do Coronel Aluízio Ferreira.
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| Anos setenta - Centro de Porto Velho |
No jornalismo teve participação
no Imparcial de Guajará-Mirim, usando o pseudônimo de Pimenta Malagueta.
Travou, ali, uma briga com o Bispo D. Xavier Rey, quando em um artigo titulado
“Meretrício: um mal a lamentar, nunca um crime a punir”, defendia o desembarque
de prostitutas vindas do Maranhão, Belém e de Manaus, proibido pelo chefe de
polícia. Em Porto Velho, colaborou com A Folha de Rondônia
jornal de propriedade do ex-governador Wadih Darwich.
Dió, nos “Anos de Chumbo” da Ditadura
Militar, atuou na clandestinidade, mantendo-se informado através de vendedores
de medicamentos que visitavam a Drogaria Santa Terezinha, que gerenciava.
Ocasiões estas em que recebia o jornal A Voz Operária. Nessa
época, a professora Yedda Borsakov, se referindo à Praça Mal. Rondon, registrou
no seu livro “Porto Velho–100 anos de história”: “Esse logradouro público além
de ter sido cenário de comícios políticos nas décadas de 50 e 60 do século
passado, também foi local de encontro dos membros do Clube da Madrugada que
tinha o popular Dionízio Xavier, o ‘Dió’, como um dos membros mais atuantes”.
Foi eleito vereador na primeira
eleição ocorrida em Rondônia, ocupando a primeira secretaria da Câmara
Municipal de Porto Velho. Seu mandato foi dedicado a montar
a estrutura da casa legislativa e, para isso, contou com ajuda de seu
amigo Alex Johnson. Dió deixou sua marca no legislativo implantando o concurso
público para o preenchimento de todos os cargos, com banca
examinadora composta pelos bancários do Banco do Brasil, do Banco da
Amazônia e de comerciários; reuniões semanais com os funcionários; criação da
biblioteca aberta à população e a democratização do acesso dos arquivos e
discursos para todos os cidadãos.
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| Folha de Rondônia 31 de maio de 2001 |
Nas palavras do jornalista
Arlindo Xavier, em que prestava solidariedade ao seu camarada diante
de uma das inúmeras violências sofridas por ele naquela então conturbada
Vila de Rondônia, hoje Ji-Paraná:
"Escrevi para A Palavra
um artigo, um artigo só, de solidariedade, em episódio de agressão física
sofrida por Dió. Que nada! Saiu na íntegra. Dió me abraçou, os olhos molhados. Dió
se foi, mas um pioneirismo ninguém jamais lhe arrebatará: a edição do primeiro
jornal de Vila de Rondônia – A Palavra.”
O jornalista Montezuma Cruz, em
artigo sobre seu velho companheiro, escreveu no jornal A Nova Democracia,
edição de janeiro de 2012:
“Dió, um acreano em defesa dos oprimidos em Rondônia
Perseguido, espancado e ameaçado de morte, o saudoso comunista acreano
Dionísio Xavier da Silveira, o Dió, nascido em sete de outubro de
1925, não abriu mão dos seus princípios durante o tempo em que escreveu e
imprimiu artesanalmente A Palavra, numa velha tipografia
instalada numa casa de madeira do Bairro Casa Preta em Vila de Rondônia (antigo
nome de Ji-Paraná), a 370 quilômetros de Porto Velho.
Franzino, impressionava também pela calma e pela simplicidade. Tornou-se
jornalista pelo conteúdo ideológico e de ser humano, penetrando nas entranhas
do extinto Território Federal de Rondônia para oferecer à sua gente um jornal
que traduzisse o momento conturbado vivido sob o tacão do regime
militar-fascista.”
Dió faleceu em 30 de
maio de 2001, o velório foi realizado na sua residência no conjunto Cohab
Floresta. Entre amigos, o velho combatente despediu-se de sua Rondônia. Está
sepultado no Cemitério dos Inocentes, em Porto Velho.
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| Folha de Rondônia 31 de maio de 2001 |
Seu inseparável parceiro, o escritor e compositor popular Antonio Serpa do Amaral Filho, Basinho, deixou suas palavras de despedidas ao Velho Dió, o plantador de utopias:
“Ao Velho Comunista,
que, sonhando com o mundo da igualdade,
da justiça social e da sociedade proletária, soube propagar seus sonhos aos
jovens, para quem suas palavras sempre soaram como fonte de conhecimento e de
sabedoria”.


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