Átomos de Paixão
Bar do Mineiro em Santa Teresa Rio de Janeiro - foto Zola Xavier 2012 |
Por Antonio Serpa do Amaral Filho ( Basinho)
A Paixão é que é a verdadeira argamassa
da identidade nacional! São inúmeras as paixões que locomovem a alma genuína da
grande civilização tropical. Na paixão pelo futebol, vê em fogo em brasa a
paixão pelo Flamengo, pelo Vasco da Gama, Fluminense, pelo Botafogo,
Corinthians, Palmeiras ou XV de Novembro de Piracicaba!
Uma outra robusta e fogosa paixão é a
paixão pelo Carnaval! A festa baconiana sacode o país inteiro durante quatro
dias de folia e brincadeira até quarta-feira chegar! Mas, com todo respeitos
paixões aqui citadas, a maior e mais visceral dentre todas as Paixões
macunaimescas forjadoras da brasilidade tupiniquim é, sem dúvida, a Paixão pelo
Boteco, lugar onde o homem é mais sincero, mais feliz, mais autêntico e
liberto!
Os italianos inventaram a cantina; os
portugueses criaram a bodega, mas foi a malandragem brasileira que concebeu a
maior invenção de todos os tempos: O Boteco! A mais perene, mais popular e mais
democrática dentre todas as respeitáveis instituições republicanas. E se o
estado representa o país, quem faz as honras da nação é o boteco! Posto isto,
agora sim podemos dizer em letras garrafais:
O povo brasileiro todo está em luto
pela passagem de Diógenes Paixão, aos 84 anos, fundador do Bar do Mineiro e
Senador pelos Estados Unidos da República Etílica e Boêmia da pátria de
Pindorama! O mais carioca de todos os conterrâneos de Carlos Drummond de
Andrade faturou o prêmio de Melhor Feijoada no Prazer da Mesa, em 2024, e
ganhou o prêmio no Comer e Beber da Veja Rio, em 2023, colecionando obras de
arte e centenas de amigos e frequentadores na sua casa, no bairro de Santa
Teresa, no Rio de Janeiro, onde os sobrados e ladeiras ficaram mais tristes e lamentosos, mas onde
também os casarios exalam a fragrância da alegria, da simpatia e do bom humor
espiritual deixados pelo dono do boteco, durante sua longa estada em terras
cariocas!
Como caboclo beradeiro aqui da
longínqua Amazônia Ocidental, registro meu lamento e dou meu depoimento
sintético como testemunha ocular da história e de ter tido a oportunidade de
haver subido o morro de bondinho e de ter desfrutado momentos maravilhosos,
poéticos e impagáveis no Bar do Mineiro, em anos pretéritos, ciceroneado pelo
jornalista e escritor Zola Xavier.
Como o Boteco é uma instituição
nacional, nós aqui na Hileia Amazônica também nos sentimos tocados pela partida
de Diógenes Paixão, mas, ao mesmo tempo, nos sentimos melhores cidadãos
brasileiros pelo fato de termos desfrutado de sua amável e cultural companhia
no alto de Santa Teresa! Com a saudade pulsando no coração e o copo de cerveja
tremulando nas mãos, saudamos a memória e a vida vivida por esse grande
representante dos povos, das emoções e dos sentimentos da nação
brasileira!!!
A paixão não morre; se dilui e se
pulveriza em porções atômicas nos corações de todos os boêmios da terra!
Bar do Mineiro em Santa Teresa Rio de Janeiro - foto Zola Xavier 2012 |
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