BERLANGE, O CURUMIM QUE UM DIA JÁ FOI XURUPITÃ URUBIÇARA
A intrigante história de Berlange Andrade
Por Antônio Serpa do Amaral - Basinho
Toda a valença é que, segundo os
presságios do candomblé, o cordão umbilical enrolado no pescoço do nascituro
tem a ver com um sinal de grande espiritualidade, pois está a indicar a ligação
especial com as entidades mitológicas do mundo Iorubá, ou com os ancestrais de
estirpe africana. Ponto pro Berlange na embaraçosa largada!
Contraditoriamente, o ramo
biológico por onde flui o néctar da vida, interligando o bebê em
desenvolvimento e ascensão para o mundo dos vivos, fazendo a conexão vascular
que permite ao sangue, rico em oxigênio, chegar até o feto, era o mesmo que,
naquele momento, atentava contra a vida daquele projeto de ser, enforcando-o
como uma fera irracional dotada de força e fúria sem sentido algum!
A salvação da pátria iria recair
sobre o conhecimento dos povos originários da hiléia amazônida, detentores dos
apanhados gnosiológicos que antecedem em mais de dez mil anos aos conhecimentos
da medicina moderna.
Literalmente com a corda no
pescoço, Berlange foi salvo pela graça e obra das mãos de uma parteira secular,
mulher de um velho índio guerreiro e feiticeiro que viveu nas brenhas da
Amazônia Ocidental.
Nascia assim um menino chamado
Xurupitã Urubiçara!
Sim, meus senhores, o cabra
nasceu pagão e aborígene, antes de receber nome e batismo civilizatórios!
Esse nome indígena perdurou até
os nove anos de idade; a partir daí, ele mudou de alcunha, quando adveio o
evento do batismo. O padre que o ungiu, como fizera Samuel a Davi, exigiu a
mudança de nome e colocou isso como condição para ele pudesse ser internado no
Colégio Dom Bosco de Porto Velho - RO, fundado em 1935. Foi então que ele ganhou
novo nome e um registro de nascimento com a denominação bíblica prenominal de
José, esposo de Maria, mãe de Jesus, o Nazareno! E foi assim que Berlange, já
como novo nome, José Berlange Andrade, foi acolhido e internado no Colégio Dom
Bosco, um momento muito decisivo na sua vida, depois do perrengue vivenciado
durante o nascimento traumático em que contou com a ajuda da índia parteira e
mulher do velho índio guerreiro e feiticeiro da floresta Amazônica que, com
suas mãos habilidosas e sábias, desembaraçou-lhe os caminhos da existência para
que o menino pudesse peregrinar as trilhas e campinas do bem viver!
Batizado com o homônimo do
personagem bíblico José, Berlange foi introduzido no mundo dos gregos, dos
romanos e dos judeus.
E agora, José?, perguntaria o
poeta Carlos Drummond de Andrade!
Agora ele está aí, firme e
forte, lutando pela vida e pela realização dos seus sonhos, como todo mundo!
E foi numa intuição onírica,
dessas que acontece uma vez na vida e outra na morte, que o menino, um dia
chamado de Xurupitã Urubiçara, teve a premonição de que o Tenente Fernando um
dia seria devorado por uma serpente do meio da selva amazônica!
Coincidentemente, essa vidência
tem muito a ver com a minha versão literária sobre a vida desse famoso
personagem da nossa história regional! Também sonhei! Onírica e literariamente!
Afinal, sonhar é preciso!
“Poetas, seresteiros, namorados,
correi! É chegada a hora de escrever e cantar talvez as derradeiras noites de
luar”
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