FANON E O CONVITE À HUMANIZAÇÃO DA NEGRITUDE
Não há começo sem dizer, sem ressalvas, que o racismo é argamassa comum
nas relações sociais no Brasil. E Rondônia, por ser parcela desse cosmo, também
experimenta e reproduz esse circuito infernal de violência contra as pessoas
negras. O racismo é um elemento negativo e fundante da nossa cultura e, por
mais que as lutas antirracistas estejam operantes, a página racista ainda não
foi superada.
Os exemplos poderiam se estender para inúmeros casos. Um negro entra em
um supermercado qualquer. Nesse momento, na cabine das câmeras ou pelos
corredores, o alerta é dado: “fiquem de olho no preto!”. De outro caso, quando
se entra em estabelecimento e se vê uma pessoa negra surge, no automático, a
afirmação, “você trabalha aqui, pode dizer onde fica...”. Ou naquele gesto
horrível: “posso tocar no seu cabelo?”. E de mencionar o infame “que negra
inteligente!”.
De fato, o racismo está no dia a dia. Algumas vezes, mascarado,
dissimulado e outras muitas é direto e criminoso. E ceifa vidas, dignidades.
Dilacera a própria Democracia. E aqui a importância de Fanon.
Aliás, quem é Fanon? Leitor e leitora, Frantz Fanon foi um martinicano,
psiquiatra, filósofo e um jovem negro que compreendeu que a cor da pele é um
fator, muitas vezes, determinante no futuro de uma pessoa. Fanon foi o cara que
teve a coragem de denunciar a desumanização, física e psicológica, das pessoas
negras causadas pela colonização e declarar que não importa a glória ou o
entusiasmo de uma Nação se diariamente a realidade é tecida com mentiras,
covardias e desprezo por parcela da sociedade.
Fanon não tinha dúvidas de que o reconhecimento da humanidade da pessoa
negra é passo decisivo para a concretização da Democracia e chave necessária
para que as sociedades saiam da grande noite que a colonização impôs, à custa
de sangue, afetos, liberdade e sonhos. E deixou convite significativo: a luta
pela humanização da Negritude é inadiável.
E cá se registra a mensagem definitiva de Fanon. A superação do racismo
é o salto de retorno à circulação da vida e de suas potências, sem máscaras e
sem consciências fragmentadas, esclerosadas ou alienadas pela
instrumentalização do humano.
Mesmo no leito de morte, já desenganado pelos médicos, Fanon não deixou
de registrar a sua esperança na emancipação dos Povos colonizados e na descolonização
do desejo, do conhecimento e da cultura. Faleceu em 6 de dezembro de 1961. Aos
36 anos. Seu exemplo e sua luta ecoam com força até os dias atuais.
Por fim, o legado de Fanon traz alerta irrecusável: o racismo e as
outras formas de intolerância, em sociedades democráticas, não podem ser
tolerados, seja qual for a forma em que se manifestem.
Fanon vive!
Newton Matos Filho
Jornalista RP 002142/RO
Mestrando em Filosofia pela Unir/RO
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