O MAIOR RIO DO MUNDO
Por Antonio Serpa do Amaral Filho*
O rio Tapajós do virtuosíssimo músico paraense transbordava a bacia amazônica
como um mar revolto e desembocava em braços e abraços de igarapés infindáveis
correndo febris pelos vales do mundo afora!
Seu violão falante e tonante era antes de tudo uma peça artística cosmopolita,
posto que era espanhol, português, brasileiro, francês e alemão ao mesmo tempo!
Onde quer que ressonasse as cordas estilizadas de sua viola incisiva e sensível
ao mesmo tempo, lá estaria gente de todo planeta se encantando e aplaudindo o
show do Mestre dos Mestres, como disse o Maestro Júlio Yriarte!
De Alenquer, onde nasceu, para o mundo, Sebastião Tapajós se espraiou feito uma
incontrolável onda tsunami sonora percorrendo com ávido talento tanto o
conservatório Nacional de Lisboa, os estudos de guitarra com Emílio Pujo quanto
a licenciatura em violão clássico no Conservatório Carlos Gomes, em Belém do
Pará, onde exerceu a cátedra musical até julho de 1967.
Percorrendo as veredas da musicalidade nacional, tocou com inúmeras feras da
MPB como Hermeto Pascoal, Jane Duboc, Zimbo Trio, Waldir Azevedo, Paulo Moura,
Sivuca, Maurício Einhorn e Joel do Bandolim, e internacionais como Gerry
Mulligan, Astor Piazzolla, Oscar Peterson e Paquito D'Rivera.
De sua biografia consta que, em 1998, compôs a trilha sonora do longa-metragem
paraense Lendas Amazônicas.
Guardo indelével a memória dos mágicos momentos em que pude vê-lo no exercício
lúdico mas rigoroso do seu fazer artístico inigualável, empunhando seu violão e
levando toda a plateia a embarcar numa viagem aos sete anéis do Planeta Música!
Sebastião Tapajós detinha o título de doutor honoris causa da Universidade do
Estado do Pará e da Universidade Federal do Oeste do Pará. Mas, ao tocar,
gostava mesmo era de se comportar como um Pajé da Amazônia, da tribo que lhe
deu o sobrenome e o emprestou ao rio, servindo em poções mágicas cabaças cheias
de beberagens, timbres, luzes, efeitos percussivos e variações sonoras
brilhantes e comoventes!
Com sua passagem, ele deixa encanto, saudade, monumentos, prantos, musicalidade
e belos momentos! E daqui por diante, quando perguntarem no vestibular qual o
maior rio do mundo, respondam simplesmente o rio Sebastião Tapajós!!!
* Cronista.
É sempre importante lembrar da importância e do timbre poético que os rios possuem, principalmente por serem esquecidos pelos gestores públicos dos locais com potencial turístico de praias maravilhosas, pois eles se esquecem que os rios desaguam nos mares...
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