NOS TEMPOS DO ANTIGO TERRITÓRIO DE RONDÔNIA
Por Zola Xavier da Silveira *
Pela sua aguerrida atividade no exercicio da sua profissão, o Guaporé Cultural presta homenagem ao jornalista Areolino Fournier Afonso, nascido na cidade de Manaus-AM em 1924. Filho de João Martins Affonso e Neide Fournier Afonso, aportou em Porto Velho capital do ainda denominadoTerritório Federal do Guaporé, depois Rondônia, isso no final dos anos quarenta quando a população se preparava para ir às urnas pela segunda vez , e, o primeiro em que uma Frente Popular, composta por comunistas, socialistas e democratas, participou da disputa eleitoral contra uma Oligarguia comandada pelo temido coronel Aluízio Pinheiro Ferreira. Nesse período de intensa mobilização social, foram criados vários sindicatos de trabalhadores, culminando com a fundação da primeira Central Sindical da história do antigo Território. Os estudantes por sua vez se organizaram e construiram sua entidade representativa, a União dos Estudantes Secundaristas do Guaporé.
Esse era o cenário em que o jovem jornalista Areolino, se integrou e permaneceu durante a sua breve e dramática permanencia na cidade de Porto Velho.
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Areolino Fournier Afonso - foto do acervo da família gentilmente cedida. |
"Informações do Território do Guaporé dão-nos notícias de arbitrariedades que estariam sendo cometidas pelo governador Sr. Araujo Lima, as quais culminaram com a prisão do Sr. Areolino Fournier Afonso, diretor do jornal “ A Folha do Guaporé “, pelo fato de ter o periódico publicado um artigo contra o governador assinado por Cisco Kid. Além disso, grande parte da edição foi apreendida".
Não conseguindo imprimir A Folha do Guaporé em Porto Velho, Areolino apelou para seus conhecimentos em Manaus e conseguiu uma gráfica para realizar a tarefa, desse modo superou às imposições do governador. Mas a peseguição implacavel sofrida pelo jornalista continuou culminando com o processo movido pelo governador.
Jornal Alto Madeira 20. 04. 50
A FARSA
Em nota publicada em sua edição do dia 23 de abril de 1950, o jornal Alto Madeira anuncia a composição do Tribunal de Imprensa que julgou o jornalista Areolino Fournier Afonso. Em sessão solene o ato foi presidido pelo juiz de Direito da Comarca, Dr. José de Melo e Silva. A promotoria ficou a cargo do Dr. Stelio Mota, para o Conselho de Imprensa foram "sorteadas" as seguintes pessoas como membros efetivos: senhorina Jacyra Figueiredo, doutora Ednice Maria Ferreira, Sr. Juarez Teles de Menezes e o Dr. Waldemar Wanderley Braga e como suplentes os Srs. Mário Monteiro, Francisco da Costa Gonçalves e Luis Rodrigues Fonseca. Todos eles funcionários públicos sendo Jacyra Figueiredo a chefe de gabinete do governador Araújo Lima. A composição do corpo de jurados foi constituida de forma a não deixar dúvida tratar-se de uma farsa "oficial", montada com a conivência do judiciário.
Em sua edição de 27 de abril o Alto Madeira publicou uma larga matéria discorrento sobre o todas as fases do rito.
Areolino e seu advogado Dr. Carlos Alberto se recusaram a participar da encenação do julgamento, na ausência de um advogado indicado pelo réu, e após as tentativas frustradas para substituí-lo entre os advogados presentes, a corte nomeu para assumir a função de advogado o Rábula Joaquim Cesário da Silva, ex-delegado de Polícia, seringalista e histórico integrante da oligarguia aluizista. Um verdadeiro escárnio diante de uma platéia que, segundo a imprensa, lotou as dependências do Forum.
Como peça de acusação o promotor durante a sua fala pedindo a condenação do jornalista, balançava as mãos mostrando a "arma do crime", como prova da infração um exemplar da Folha do Guaporé de propriedade de Areolino Fournier.
O Promotor exibindo um exemplar da Folha do Guaporé, como a arma do crime leu os artigos que o julgou insultuosos ao governador Araújo Lima, procurou demonstrar a intenção dolosa do jornalista, que visava unicamente atacar a reputação pessoal fazendo acusações graves ao governo.
Qual o crime?
Areolino escrevia seus artigos acompanhando as construções de diversas obras do governo e denunciando suas irregularidades, que envolviam o engenheiro Belmiro Galloti, membro do governo e militante integralista. O jornal carioca Tribuna da Imprensa em sua edição de 05.04.50 trouxe a seguinte nota: "O engenheiro de nome Belmiro Galloti é acusado, segundo as informações recebidas, de compartilhar em várias transações de café, manteiga e materiais de construções. Esse mesmo funcionário ameaçou o Sr. Areolino Fournier de mandar espancá-lo pelos artigos que tem publicado a respeito na Folha do Guaporé ".
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Jornal Alto Madeira 27 de abril de 1950 |
O jornal Alto Madeira acompanhou o julgamento, na edição de 27 de abril de 1950, segue um trecho:
"Evacuada a sala de julgamento da grande massa de povo que se comprimia para presenciar os debates, os jurados se reuniram para deliberar sobre a pena cabível. Enquanto durou a conferência sigilosa, que se prolongou por mais de três horas, o povo permaneceu à frente do edifício do Forum, indiferente à chuva copiosa que caia, numa demonstração patente do grande interesse popular despertado por esse julgamento, o primeiro em nosso Território. Reabertas as portas do Forum a multidão irrompeu pelos corredores a fim de escutar a leitura da sentença. Nesta, feita pelo MM. Juiz Melo e Silva, foi declarado que, por decisão unânime dos jurados, reconhecendo culpado o Sr. Areolino Fournier Afonso, o Tribunal de Imprensa estabelecia em dezoito meses de prisão a pena do mesmo, a serem cumpridos no presídio da Guarda Territorial, e a multa de CR$ 4. 000,00 ( quatro mil cruzeiros )".
Uma sentença encomendada para calar a voz dos que faziam oposição à oligarquia que dominava o Território do Guaporé naqueles tempos. Assim era o fascismo às margens do Rio Madeira.
S Poucos dias após a condenação do jornalista Areolino Fournier, o jornal Alto Madeira em sua edição de 06 de maio de 1950, deu a notícia da criação da Associação de Imprensa do Território Federal do Guaporé, o fato que chama atenção pelo verdadeiro sarcásmo, foi a designação para serem os presidentes de honra da entidade o oligarca coronel Aluizio Ferreira e o governador Joaquim de Araújo Lima, algozes da liberdade de imprensa.
FIM TRÁGICO
Areolino Fournier para se livrar das perseguições às suas atividades jornalísticas sai de Porto Velho com destino ignorado, para anos depois ser encontrado em São Paulo. Abandona o jornalismo e entra para uma academia de Boxer inscrito na Federação Paulista. O jornal A Gazeta Esportiva em sua edição de 26 de abril de 1956, anuncia a programação da primeira luta da 5ª rodada do XV campeonato Popular de Box Amador de São Paulo. Dentre os inscritos como avulso na categoria de Pesos Meio Medios encontramos Areolino, o jovem amazonense agora em outro campo de luta, o Boxer. Seu adversário para a sua estreia no rinque foi Oswaldo Seyffert representando o Clube Portuguesa Paulista. O palco fatídico da disputa foi montado no Ginásio do Clube Esportivo da Penha, onde Areolino subiu ao ringue pela primeira e última vez, morre aos 32 vítima de um mal súbito durante a luta.
“Acho que essa história ainda precisamos fazer muito
barulho. Minha família via no Tio Areolino um jovem promissor, que foi proibido
trabalhar no que gostava. Teve que ir lutar Boxer, acabou falecendo jovem “. Declarou
Gilson C. Fournier Afonso, sobrinho de Areolino.
Areolino Fournier Afonso, nasceu em 1924 na cidade de
Manaus. Faleceu no dia 1 de maio de 1956
na capital paulista no rinque durante uma luta de Box.
Filho de João Martins Affonso, paraense e Neide Fournier
Afonso, maranhense.
Gilson C. Fournier Afonso, sobrinho de Areolino, “Acho que
esta história ainda precisamos fazer muito barulho. Minha família via no Tio
Areolino um jovem promissor, que foi proibido de trabalhar no que gostava e
teve que ir lutar Boxe. Acabou falecendo jovem.”
A.
M. 09.04.50
B.
Areolino denuncia à ABI agressões que
sofreu pelos partidários do governados
Araújo Lima, tendo na pessoa do empreiteiro Belmiro Galotti o principal
agressor.
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