7 DE ABRIL - DIA DO JORNALISTA

                                                     Jornal Alto Madeira 20. 04. 50

 
JORNALISTA CONDENADO A PRISÃO NOS TEMPOS DO TERRITÓRIO FEDERAL DO GUAPORÉ

Por  Zola Xavier
 

O Guaporé Cultural neste dia 7 de abril, data dedicada aos profissionais de imprensa, presta  uma homenagem ao jornalista  Areolino Fournier Afonso,  condenado a dezoito meses de prisão e a multa de 4 mil cruzeiros, por desacato e injúria ao  governador do antigo  Território Federal do Guaporé, o engenheiro Joaquim de Araújo Lima, um dos principais líderes nacionais da Aliança Integralista Brasileira, agremiação política espelhada no Fascismo de Mussolini. 

Diversas foram as ameaças e prisões de jornalistas ao longo da história do Guaporé, mas o caso de Areolino é inédito  por se tratar de um Tribunal de Imprensa. O que vimos foi uma farsa "oficial", montada com a conivência do judiciário, demonstrada claramente pela composição do  corpo de jurados  que, com quatro componentes, todos ligados à administração do Território do Guaporé,  contava, inclusive, com a presença da chefe de Gabinete  do governador,  Srª Jacyra Rebêlo de Figueiredo.

Na ausência de um advogado indicado pelo réu, a corte chamou um voluntário entre os presentes. Joaquin Cesário da Silva, ex-delegado de Polícia, conhecido rábula, se apresentou  para assumir a defesa do jornalista, um escárnio escrachado.

Qual o crime?

Areolino escrevia seus artigos acompanhando as construções de diversas obras do governo e denunciando  suas irregularidades, que  envolviam o engenheiro  Belmiro Galloti,  membro do governo e militante integralista. O jornal carioca Tribuna da Imprensa em sua edição de 05.04.50 trouxe a seguinte nota: "O engenheiro de nome Belmiro Galloti é acusado, segundo as informações recebidas, de compartilhar em várias transações de café, manteiga e materiais de construções. Esse mesmo funcionário ameaçou o Sr. Areolino Fournier de mandar espancá-lo pelos artigos que tem publicado a respeito na Folha do Guaporé ".

O jornal Alto Madeira acompanhou o julgamento, na edição de 27 de abril de 1950, segue um trecho: 

"Evacuada a sala de julgamento da grande massa de povo que se comprimia para presenciar os debates, os jurados se reuniram para deliberar sobre a pena cabível. Enquanto durou a conferência sigilosa, que se prolongou por mais de três horas, o povo permaneceu à frente do edifício do Forum, indiferente  à chuva copiosa que caia, numa demonstração patente do grande interesse popular despertado por esse julgamento, o primeiro em nosso Território. Reabertas as portas do Forum a multidão irrompeu pelos corredores a fim de escutar a leitura da sentença. Nesta, feita pelo MM. Juiz Melo e Silva, foi declarado que, por decisão unânime dos jurados, reconhecendo culpado o Sr. Areolino Fournier Afonso, o Tribunal de Imprensa estabelecia em dezoito meses de prisão a pena do mesmo, a serem cumpridos no presídio da Guarda Territorial, e a multa de CR$ 4. 000,00 ( quatro mil cruzeiros )".

Uma sentença encomendada para calar a  voz dos que faziam oposição à oligarquia que dominava o Território do Guaporé naqueles tempos. Assim era o fascismo às margens do Rio Madeira.


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