LORD BROWN, O CRISTO NEGRO QUE SALVOU A INSPEÇÃO DA JUSTIÇA FEDERAL
Por. Antonio Serpa do Amaral Filho - Basinho *
Jesus Brown remando nas águas da grande enchente. foto: Basinho
Tão
logo as águas da grande enchente de 2014 baixaram, a Justiça Federal tomou a
iniciativa de realizar uma inspeção geral no complexo da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré, capitaneada por Dimis Braga, como demonstração de zelo e
preocupação com o nosso mais expressivo patrimônio cultural!
Ao se dirigir ao
pátio onde estavam literalmente amontoadas as peças do acervo, como se fossem
sucatas, Dimis Braga encarou a Secretária de Cultura e passou a fazer várias
perguntas sobre o estado lamentável das peças do acervo. Titubeante, a
Secretária não soube dizer coisa com coisas a respeito das peças jogadas ao
leu. Eis então que um curioso falante, que estava próximo ao amontoado de gente
que àquela altura já se formara por ali, pôs-se a discorrer com grande desenvoltura
sobre o acervo jogado às traças no relento do pátio. O falante descrevia com
tanta intimidade e eloquência a natureza, função, origem e qualidade de cada
peça que, surpreso, o manauara Dimis indagou de pronto: quem é o Senhor? – Sou
Lord Jesus Brown! Meu pai trabalhou na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e eu
também, e aprendi tudo com ele! – respondeu. Dimis Braga, boquiaberto em ver um
homem do povo falando daquele jeito, trajando uma surrada camisa do flamengo,
chinelo nos dedos, calça desbotada, magro, alto, negro, filho de barbadiano,
contra-atacou: muito bem! Gostei do Senhor!! A partir de agora, faço saber e
dou ciência a todos os presentes, o Senhor está solenemente nomeado Consultor
ad hoc da Justiça Federal para efeito desta inspeção, porque a alta
administração da Fundação Cultural de Porto Velho não sabe dizer absolutamente
nada a este juízo nesta diligência judicial. - Senhor Diretor de Secretaria,
proceda os registros formais! Seu Lord Brown, me acompanhe, vamos trabalhar!
Foto: Basinho
No primeiro plano, juiz Dimis Braga com Bispo, antigo ferroviário; atrás, o Consultor Lord Brown.
A
sonhada inspeção, antes emperrada pela falta de informações, começou a
funcionar verdadeiramente! Porque o juiz federal tinha agora, à disposição, um
Consultor de primeira grandeza, menino criado sem cueca nas cercanias das
composições férreas, que dava uma verdadeira aula ao juízo sobre todos os
ambientes, maquinários e acervos da lendária Ferrovia do Diabo! Antes
marginalizado pela sociedade e pelos estudiosos da histórica linha ferroviária,
Lord Brown arrumou melhor a coluna na vertical, tufou o peito, se encheu de orgulho
em nome dos antilhanos caribenhos e fez a maior descrição oral, técnica,
sociológica, histórica e geográfica que o juízo federal jamais ouvira em solo
rondoniense.
Lord Jesus Brown é fã do magistrado Dimis Braga até hoje! “Ele foi
o único juiz federal a pôr os seus pés aqui onde meu velho pai trabalhou” –
exclamava! E assim um Cristo negro e beradeiro salvou o trabalho da Justiça
Federal naqueles dias trágicos, quando a maior cheia de todos tempos levou suas
águas para o leito do rio Madeira e deixou um grande rastro de destruição à
reboque de sua sombra catastrófica!
LEGENDAS: Foto 01 - Jesus Brown remando nas águas
da grande enchente. Foto 02 - No primeiro plano, juiz Dimis Braga com Bispo,
antigo ferroviário; atrás, o Consultor Lord Brown.
* Cronista.
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